
Tal como Fernão de Magalhães, 500 anos depois, também o Quinas volta a poder circum-navegar
5 Agosto 2019
Foi há 6 semanas que uma tartaruga-de-couro, anónima como praticamente todas as outras, ficou presa em cabo marinhos, na Meia Praia, em Lagos. Os riscos para a sua saúde eram vários (infeções devido aos ferimentos e cortes que sofreu, septicemia, pneumonia por aspiração de água do mar, et cetera) e potencialmente fatais – e os seus 300 quilogramas de peso representavam desafios (clínicos e de maneio) impensáveis até à data. Mas depois de um mês e meio para estabilização e reabilitação no Porto d’Abrigo do Zoomarine (centro de reabilitação para espécimes aquáticos), eis que chega a hora de regressar a casa. E que grande dia vai ser esse…
Será já no dia 7 de Agosto que o Quinas, como foi baptizado pelos Portugueses, voltará ao mar. A devolução, uma vez mais, contará com a inestimável e sempre muitíssimo profissional cooperação da Marinha Portuguesa, que, desta feita, integrará nas operações do NRP António Enes (F471), uma Corveta da Classe João Coutinho, a nobre acção de devolução propriamente dita.
Uma caixa especial foi preparada, para que a devolução possa decorrer em alto-mar, a 10 milhas náuticas a sul de Portimão. E o plano é que nas suas “costas” o Quinas leve um aparelho que nos permitirá acompanhar a sua progressão (velocidade, direcção, profundidades de mergulho, et cetera) ao longo dos meses.
Caixa de transporte feita de raiz pela equipa de serralheiros e carpinteiros do Zoomarine.
A caixa foi idealizada pela equipa de biólogos, veterinários e enfermeiros do Porto d’Abrigo em particular para a libertação do Quinas em alto-mar.
Naturalmente, a ajudar o Quinas estiveram muitas pessoas e várias entidades – e os agradecimentos impõem-se. Obrigado, portanto, aos veraneantes da Meia Praia, e aos seus nadadores-salvador. Obrigado, Polícia Marítima. Obrigado ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Obrigado ao Mestre Pedro Patacas e ao Mestre Antero Fernandes (pelas decerto deliciosas medusas). Obrigado ao G.A.I.A., por criar o magnífico movimento “Mãos ao Mar”, e ao Cristian Briceag, por tanto apoiar o dito. Obrigado às centenas de portugueses que sugeriram nomes e ao que neles votaram – para escolher o bem patriótico Quinas. E muito obrigado aos milhares de portugueses que se preocuparam com o Quinas e que apoiaram o “Mãos ao Mar” – obrigado porque toda a ajuda foi importante e nos incentivou a que todos os dias lutássemos com muito ânimo ao lado daquele que deixou de ser “uma Dermochelys coriacea” e passou a ser o “nosso Quinas”.
A reabilitação chegou ao fim e o regresso a casa é o doce e justo culminar deste bonito esforço! Agora, volta a estar tudo não nas mãos, mas nas barbatanas do Quinas… Não sejamos ingénuos: os desafios habituais mantêm-se (redes de pesca, plásticos abandonados, poluição química, urgência climática, cabos marítimos, et cetera) – mas a actual Natureza é cada vez mais assim. E cabe-nos mudar os nossos comportamentos para limitar tais riscos desnecessários.
Entretanto, no ano em que se celebram os 500 anos do épico feito de Fernão de Magalhães, que melhor homenagem do que lhe dedicar a viagem de uma das espécies que mais longe e mais fundo consegue navegar?
